Paulo Henrique Paranhos: Embaixada da Índia no Brasil, Brasília

Vencedor de concurso fechado promovido em 2003 pela Embaixada da Índia no Brasil, Paulo Henrique Paranhos concebeu um complexo composto por cinco edificações, das quais quatro são residenciais. Após longo período de concepção, com aprovações ocorrendo na Índia, a embaixada foi inaugurada em 2017, concentrando no mesmo endereço atividades antes dispersas pela capital federal. A unidade arquitetônica caracteriza o projeto

Desde que a missão diplomática indiana se estabeleceu no Brasil em 1948, um ano após a independência do país, 18 líderes já assumiram aqui o posto de embaixador, sendo que o atual, Ashok Das, está no cargo desde março de 2018. Dos seus antecessores, aquele que permaneceu mais tempo na função foi S.S. Nath (o 11º embaixador indiano no Brasil), com quase cinco anos de mandato no início do anos 1980.

Nesse contexto, de elevada volatilidade do cargo, pensar na residência de um embaixador não é como pensar em uma residência habitual, em que sobressaem determinadas particularidades familiares. Assim, a embaixada, que reúne as funções executiva e doméstica da equipe diplomática, é uma casa especial, feita para pessoas provenientes de determinada cultura e que – já se sabe de antemão – estarão ali de passagem, vivenciando, porém, intensamente o espaço: como habitação e trabalho.

Foi em 2003 que teve início o projeto arquitetônico da Embaixada da Índia no Brasil, localizada no Distrito Federal e concebida por Paulo Henrique Paranhos, titular do escritório Tao Arquitetura. Naquele ano, três arquitetos brasileiros foram contratados para desenvolver estudos preliminares – também participaram do concurso fechado Gladson da Rocha, que trabalhara com Oscar Niemeyer, e Sérgio Parada – para terreno localizado no Setor de Embaixadas Sul, em Brasília.

A experiência prévia de Paranhos na área começou ainda na época em que cursava a Universidade de Brasília (UnB), quando foi estagiário de Elvin Mackay Dubugras, neto de Victor Dubugras e autor de uma dezena de prédios de embaixadas brasileiras, incluindo a de Nova Déli, na Índia, a de Riad, na Arábia Saudita, e a de Praia, em Cabo Verde, na África (todas construídas).

Coincidência do destino, Paranhos trabalhou como estagiário no projeto indiano de Dubugras e, já como arquiteto autônomo, concebeu a embaixada brasileira em Moçambique e a nossa chancelaria em Déli, ambas ainda não edificadas, além de ter prestado consultoria em projetos para embaixadas estrangeiras em Brasília.

Para o arquiteto, o legado desses trabalhos é o conhecimento que possui da realidade cotidiana do corpo diplomático, em que pesam questões culturais e a necessidade de privacidade, coabitando o mesmo terreno funcionários de diversos escalões e sobrepondo-se no espaço eventos familiares a sociais.

A Embaixada da Índia no Brasil é composta por cinco edificações, das quais quatro são residenciais. Junto à entrada principal está localizada a chancelaria, que é o local de trabalho do corpo diplomático e também onde ocorrem os eventos da embaixada. Alguns deles se estendem para a residência do embaixador e, assim, essas duas edificações estão lado a lado.

Na outra ponta do terreno há a casa dos funcionários externos ao corpo diplomático, enquanto que na sua parte central se localizam a morada do ministro (que atua em par com o embaixador, assumindo a função executiva) e a do adido militar junto com a do primeiro e o segundo secretários.

Característica do trabalho de Paranhos, sobressai a unidade arquitetônica do conjunto, sendo difícil diferenciar a priori as quatro residências entre si, havendo ainda similaridades dessas com a chancelaria. A linearidade dos volumes – todos com dois pavimentos, tendo como prerrogativa o gabarito de 8,5 metros permitido na região – e a recorrência de elementos intermediários entre o interior e o exterior, como brises, pergolados e pátios abertos que filtram a luz do sol, são características relevantes por eles compartilhadas, mas há também no projeto uma delicada apropriação da topografia e a distribuição cuidadosa das construções.

A maior parte dos dormitórios (são 30 no total) e os gabinetes, localizados nos segundos pavimentos das construções, possuem vista para o Lago Sul, e o distanciamento entre as casas, as cotas em que estão implantadas e também a posição das suas janelas principais garantem privacidade aos moradores.

O terreno possui declive acentuado, de 15 metros, porém, dada a sua grande extensão (200 metros), a inclinação é suave. As residências do centro do lote são praticamente coplanares – ainda que a casa do adido militar esteja semienterrada – enquanto que as da ponta estão nas cotas mais alta e mais baixa do lote. E é bonita a integração da chancelaria com a morada do embaixador, sendo que a inclinação negativa da cobertura da primeira (em movimento contrário à subida do terreno) termina em uma pérgola que toca o chão, em meio à qual se abre um vazio que direciona à residência. Assim, é um projeto, como define Paranhos, de monumentalidade suave, sem exageros formais.

 

Formando em 1985 pela Universidade de Brasília (UnB), o arquiteto Paulo Henrique Paranhos trabalhou com Elvin Mackay Dubugras, neto de Victor Dubugras, ainda nos anos de estudante (de 1980 a 1984). Depois de formado, sua primeira experiência profissional foi no Itamaraty, em Brasília, detalhando o Anexo II, também projetado por Oscar Niemeyer. Em 1986, constituiu escritório próprio, o Tao Arquitetura, e por duas gestões (de 2010 a 2013) esteve à frente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, primeiro como presidente da seção DF e depois como vice‑presidente nacional

 

Ficha Técnica

Embaixada da Índia em Brasília Local Brasília (DF)
Início do projeto 2003
Conclusão da obra 2017
Área do terreno
25.000 m2
Área construída 6.500 m2

Arquitetura  Tao Arquitetura - Paulo Henrique Paranhos (autor); Eder Alencar, Cláudio Sá, Ana Carolina Vaz, Hermes Romão, Heloísa Moura (colaboradores)
Fotos
Leonardo Finotti

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