(Foto: Leonardo Finotti)

MASP: breve história de um mito | Por Daniele Pisani

Em um de seus Ensaios, intitulado “Sobre os coxos”, como de hábito irônico e ao mesmo tempo piedoso em relação aos defeitos congênitos do ser humano, Miguel de Montaigne se detinha na tendência de não só se acreditar numa história, mas ainda enriquecê-la com detalhes ulteriores. “O erro individual”, escreveu, “gera o erro público, e depois, por sua vez, o erro público gera o erro individual. Assim, de mão em mão, vai toda essa construção tomando corpo e se formando, de maneira que a testemunha mais longínqua está melhor informada que a mais próxima: e a última informada, mais convencida que a primeira”. Pensamos sempre que os outros são os que cometem esse erro elementar; a história do MASP - na qual todos acreditamos, e que talvez nós mesmos já tenhamos contado para aqueles que não a conheciam - demonstra impiedosamente, como se verá, a falácia desta convicção.

Este artigo resume parte da pesquisa de Daniele Pisani sobre a história do terreno do MASP, o Museu de Arte de São Paulo, concebido por Lina Bo Bardi. Estudando o projeto, nunca construído, de Affonso Eduardo Reidy para o MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), que se pretendia construir no mesmo lote da Avenida Paulista, o historiador italiano descobriu que já em 1952 Ciccillo Matarazzo (o então presidente do MAM-SP) havia desistido de implantar o museu no local; muitos anos antes, portanto, de Lina Bo Bardi reivindicar, em 1959 (e não em 1957, como se tem dito habitualmente), a construção do MASP naquele endereço. Ou seja, nunca houve a disputa que se acreditava ter existido entre as duas instituições. Atendo-se, então, às afirmações – amplamente divulgadas na historiografia do MASP – de Pietro Maria Bardi (diretor do museu na época) e da arquiteta de que o insucesso do projeto do MAM deveu-se ao descumprimento de uma cláusula constante no contrato de doação do terreno à municipalidade – a famosa exigência para se deixar livre a vista do belvedere em direção ao centro da cidade -, Pisani saiu à busca de tal documento a fim de comprovar o fato. Caso contrário, afinal, inexistindo tal impedimento, qual seria a razão do partido do MASP? Procurou em arquivos públicos e privados e em cartórios, e o que encontrou foram vestígios de uma história curiosa e desconhecida.Um emaranhado de enganos e omissões, trazido à tona – com riqueza documental – no livro de Daniele Pisani que a Editora 34 está prestes a lançar, do qual uma pequena parte encontra-se condensada no artigo a seguir.

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