Intervenções artísticas movimentam Largo da Batata

Público pode interagir com obras de Estela Sokol, LiveNoiseTupi e OPAVIVARÁ! até 19 de agosto, na zona oeste de São Paulo. Iniciativa é da URBE - Mostra de Arte Pública - Edição 3

Marcado pelo intenso fluxo diário de pessoas, o Largo da Batata, localizado em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, recebe desde o dia 4 de agosto intervenções temporárias que integram a 3ª edição da Mostra de Arte Pública URBE.

A festa de abertura contou com a presença da Batata Eletrônica, um projeto de house e techno que ocupa bimestralmente o Largo da Batata. O público pôde ainda participar de caminhada com os curadores da mostra, Felipe Brait e Reinaldo Botelho, colaboradores e equipe.

Também fez parte do início da programação uma conversa sobre “Circuito de Afetos” com Brait, Botelho, Marcio Black (Fundação Tide Setubal), Ricardo Cardim (Floresta de Bolso) e o OPAVIVARÁ! – coletivo de arte do Rio de Janeiro, que apresenta a obra “Brasa Ilha” na mostra.

Quem passar pelo Largo da Batata até 19 de agosto poderá interagir ainda com as obras “Greta Garbo”, de Estela Sokol, e “Apanoesh”, do coletivo LiveNoiseTupi.

Confira a programação completa aqui. Abaixo entrevista com os curadores da URBE – Mostra de Arte Pública – Edição 3, Felipe Brait e Reinaldo Botelho:

Por que a escolha pelas obras de Estela Sokol, LiveNoiseTupi e OPAVIVARÁ!? Foram escolhidas levando em conta as particularidades do espaço público – Largo da Batata – onde estariam inseridas?

Pensamos primeiramente os espaços sociais e os territórios urbanos como dimensões abertas à reconstrução dos sentidos. Pesquisamos o contexto histórico, avaliamos elementos simbólicos e culturais e ponderamos as especificidades presentes em cada lugar, para depois adequar os campos conceituais já presentes na estrutura da mostra. Após esse processo buscamos ativar linguagens operantes dentro da própria trajetória do evento, conectando diversidades e também suas respectivas viabilidades de execução. Acreditamos que a noção de práticas artísticas não se refere a identificação de modos de comportamento como representação, as práticas ligam-se à noção de um “fazer-inventar”, pois são sempre obras inéditas, idealizadas especificamente para o território escolhido, então, não escolhemos as obras e sim os artistas que desenvolveram esses trabalhos exclusivamente para esse contexto, para essa edição da mostra. O Largo da Batata representa bem as contradições sociais e políticas que o capitalismo informacional impõem ao uso do espaço público. Desse modo, a escolha dos artistas buscou articular a possibilidade da realização de trabalhos autorais, que estivessem em conjunção com os espaços específicos quais foram destinados, ou seja, escolhidos pelos próprios artistas em diálogo constante com a curadoria. Todos os três trabalhos apresentam relações com as especificidades em questão, em maior ou menor grau de relação, desde  questões temporárias: como o trânsito de moradores de rua; como por questões históricas: rememorar a existência de povos originários presentes no lugar e reescrevê-las aplicando novas narrativas.

A variedade de linguagens artísticas busca aproximações e diálogos diversos entre público, obras e espaço público? Qual a intenção?

Sim, com certeza, porém não só o diálogo. Essa diversidade de linguagens busca ativar novas perspectivas na imaginação pública, rompendo com a automatização do cotidiano e humanizando olhares frente a tais processos criativos. A mostra como um todo acaba por construir uma cartografia de práticas micropolíticas, desestabilizando as formas dominantes de subjetivação. A reapropriação da potência criadora do corpo, dos afetos, da linguagem, da imaginação e do desejo como experiência de um trabalho coletivo e comum, funcionando como um desvio, uma resistência para discutir o espaço público, que é o real sentido da cidade, o lugar onde a cidade aparece na sua dimensão mais importante: o da realização da cidadania.

A partir das experiências anteriores, o que se mostrou urgente ou necessário de ser explorado nesta terceira edição?

Percebemos que era importante fortalecer a relação com atores locais, abrigar atividades com agentes que desenvolvem projetos e ações no bairro se tornou uma das maiores forças que estão sendo aplicadas nesta edição. Se em edições anteriores as programações paralelas tinham uma maior participação de “especialistas”, nesta edição 3 a formulação da programação buscou contemplar muito mais um olhar ativista e atuante sobre o espaço em questão, aplicando interações ainda não ocorridas no passado, e que muitas vezes somente com um evento de tais proporções pode provocar, conectando vizinhanças dentro de um mesmo contexto cultural no intuito de provocar novas reflexões, outras soluções, e talvez diferentes caminhos quais o cotidiano sufocante das metrópoles busca constantemente sufocar. A metodologia pensada leva em conta o sentimento de pertencimento das comunidades por meio de suas representações, espaços apropriados e delimitados a partir de uma relação de poder, e uma população com grupos sociais relativamente distintos, mas que também se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos e subjetivos onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade, coesão social, cultural e territorial.