Com postura multidisciplinar, arquiteto reinterpreta casas em SP

O arquiteto paulistano Márcio Mazza torna-se também incorporador, despachante, construtor e empresário para realizar intervenções em antigos sobrados

A ideia de “reinterpretar” espaços residenciais existentes na capital paulista aconteceu há cerca de 4 anos, quando o arquiteto Márcio Mazza percebeu uma lacuna no mercado imobiliário: a ausência de ações sistêmicas que possibilitem casas com qualidade arquitetônica e, ao mesmo tempo, com liquidez de mercado.

“Se alguém quiser comprar uma casa – reformada ou nova – de boa arquitetura, precisa procurar muito e contar com muita sorte. Elas praticamente não existem”, comenta o titular do M Mazza Arquitetura – escritório especializado em compatibilização de projetos de grande escala, como edifícios industriais e institucionais.

Mazza, que foi idealizador e dono por 8 anos do portal ARQ!BACANA, ressalta que o setor de apartamentos, por outro lado, é bem servido de incorporadores, construtores, instituições e corretoras de imóveis, muitas delas especializadas apenas nessa tipologia.


“No que se refere à qualidade arquitetônica, os edifícios de apartamentos vêm se expressando muito bem por meio de dezenas de exemplos que, já há alguns anos, são construídos na zona oeste de São Paulo. São prédios modernos, com uma arquitetura absolutamente contemporânea e que mostra todo o vigor dessa tipologia no cenário arquitetônico moderno paulistano”, complementa.

Com esse quadro no setor residencial aliado à crise econômica no país, o arquiteto adotou um posicionamento empreendedor e multidisciplinar para viabilizar seu projeto de reforma de antigos sobrados voltados à classe média alta paulistana.

Atua como micro incorporador, ao buscar residências que, embora tenham programas ultrapassados, contam com construção, localização, tamanho e preço em conformidade com seus requisitos de reforma – em geral, estão em bairros nobres como Jardim Lusitânia, Vila Nova Conceição, Jardim Paulistano, entre outros.

Em seguida, dá-se início a fase de projetos. Mazza assume, ao mesmo tempo, as funções de arquiteto e cliente. “Eu, evidentemente, aprovo tudo que projeto. Às vezes demora um pouco, mas acaba rolando. Eu aprovo tudo, sem ter que explicar ou persuadir ninguém e tudo quase sempre muito rápido”, comenta.

Nesse momento, também assume o papel de despachante, para garantir a aprovação dos projetos. A burocracia e o fato de algumas casas estarem em áreas protegidas por órgãos públicos, necessitando de maior tempo para legalização, são os principais entraves nas reformas, segundo ele. 

Enquanto construtor, busca bons materiais com bons preços, administra equipes de diferentes perfis, cuida dos prazos e da qualidade da obra. Para Mazza, a reforma é a solução mais sustentável existente na construção civil. “No meu caso, aproveito as fundações, os pilares, vigas, lajes e algumas paredes. Convenhamos que é bastante poder oferecer uma casa ‘nova’ com o máximo de aproveitamento do existente e o mínimo de intervenção, produzindo muito pouco entulho – o grande vilão dessa coisa toda”, explica.

O arquiteto paulistano denomina sua maneira de intervir como uma “reinterpretação do espaço”, que respeita o que esse tem de bom e atua de maneira efetivamente cirúrgica e sustentável.

Com um perfil de cliente traçado – casal jovem, informal, que gosta de receber, apreciadores de arquitetura moderna etc. -, Mazza projeta espaços com arquitetura ampla, transparente, colorida, lúdica, com materiais simples, mas descolados e funcionais, com média de três suítes e vagas na garagem, muita luz natural e vegetação.

Na etapa seguinte – que o arquiteto julga ser a mais importante -, ajuda as corretoras imobiliárias na apresentação arquitetônica da casa para eventuais clientes: textos, plantas humanizadas com diferentes layouts, publicação do imóvel nas redes sociais etc.

Por fim, na hora da venda, vira um micro empresário, providenciando documentos com advogados e discutindo valores e condições junto a bancos e clientes.

Por contar com um “banco de casas reformáveis”, tão logo realiza uma venda, ele inicia o processo novamente. “Aí é que vem o imponderável: Às vezes vendo logo, às vezes demora uns 4 ou 5 meses. Felizmente, as últimas foram vendidas ainda no fim das obras”, revela.